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Henry Sobel, por ocasião da morte de Mário Covas contou a seguinte parábola: Quando observamos, da praia, um veleiro a afastar-se da costa, navegando mar adentro, impelido pela brisa matinal, estamos diante de um espetáculo de beleza rara. O barco, impulsionado pela força dos ventos, vai ganhando o mar azul e nos parece cada vez menor.
Não demora muito e só podemos contemplar um pequeno ponto branco na linha remota e indecisa, onde o mar e o céu se encontram.
Quem observa o veleiro sumir na linha do horizonte, certamente exclamará: "já se foi". Terá sumido? Evaporado? Não, certamente. Apenas o perdemos de vista. O barco continua do mesmo tamanho e com a mesma capacidade que tinha quando estava próximo de nós. Continua tão capaz quanto antes de levar ao porto de destino as cargas recebidas. O veleiro não evaporou, apenas não o podemos mais ver.
Mas ele continua o mesmo. E talvez, no exato instante em que alguém diz: "já se foi", haverá outras vozes, mais além, a afirmar: "lá vem o veleiro" !!!
Assim é a morte.
Quando o veleiro parte, levando a preciosa carga de um amor que nos foi caro, e o vemos sumir na linha que separa o visível do invisível dizemos: "já se foi".
Terá sumido? Evaporado? Não, certamente.
Apenas o perdemos de vista.
O ser que amamos continua o mesmo, suas conquistas persistem dentro do mistério divino.
Nada se perde, a não ser o corpo físico de que não mais necessita. E é assim que, no mesmo instante em que dizemos: "já se foi", no além, outro alguém dirá : "já está chegando". Chegou ao destino levando consigo as aquisições feitas durante a vida.
Na vida, cada um leva sua carga de vícios e virtudes, de afetos e desafetos, até que se resolva por desfazer-se do que julgar desnecessário.
A vida é feita de partidas e chegadas.
De idas e vindas. Assim, o que para uns parece ser a partida, para outros é a chegada.
Assim, um dia, todos nós partiremos como seres imortais que somos todos nós ao encontro Daquele que nos criou.
(anónimo)
"- Porque é que o que é bom acaba depressa?"
"- Porque se o que é bom durasse para sempre, deixaria de ser bom para ser apenas o habitual..."
(anónimo)
Nascemos, vivemos, morremos…
E afinal o que é a vida? O que fazemos nós cá na terra, onde a passamos?
Um doente do serviço sofre uma paragem cardio-respiratória. Durante cerca de 20 minutos toda a gente se reúne em volta dele para o reanimar, o que por fim se consegue. Por instantes a vida dele parecia fugir por entre as mãos dos profissionais de saúde que estavam a tentar tudo por tudo. Os sentimentos que ocorrem ao pensamento de alguns alunos de enfermagem que se encontram a assistir são no mínimo controversos: curiosidade e entusiasmo por nunca terem assistido a nenhuma reanimação com suporte básico de vida a não ser pela televisão; tristeza e aflição porque os profissionais não estão a ser bem sucedidos; sentimento de impotência e fragilidade perante uma vida que parece esvair-se tão facilmente. Tudo o que se vê nas séries acontece: verificar os sinais vitais, compressões torácicas, insuflação com ambu, carro de emergência aberto, administração de adrenalina, administração de atropina, laringoscópio a ser usado para o doente ser entubado…
No final é obtido pulso, a tensão arterial está mais ou menos estável e o doente é encaminhado para a unidade de cuidados intensivos. A batalha travada contra a morte tem fim e os médicos e as enfermeiras venceram!
Ou será que não venceram realmente? Será que o doente não vai acabar por falecer na unidade de cuidados intensivos? E se não morrer, será que vai ter qualidade de vida?
A mim surgem-me, para além das dúvidas anteriormente levantadas, outras tantas, estas de índole mais espiritual: Será que foi feito o que era correcto? Será que Deus queria que os profissionais de saúde salvassem a vida daquela pessoa? (Será que a salvaram de facto, ou que apenas ela o pode fazer?) Ou pelo contrário estava a chamá-la para o seu lado e eles não deixaram? Será que foi feito o que Deus queria, a missão dos profissionais de saúde presentes na sala era essa, ou fizeram o oposto? Afinal que autoridade têm os médicos e os enfermeiros para decidirem que ainda não chegou a hora daquela pessoa morrer?
Ponderando situações semelhantes a esta surgem-me sempre constatações… Constato que a vida é vulnerável, frágil… Constato a facilidade com que esta acaba…
E depois penso! Todos nós andamos por cá preocupados com tanta coisa e no fundo com coisa nenhuma, porque se pensarmos bem a maioria das nossas preocupações não são realmente importantes. E vivemos menos bem por causa disso… Menos felizes, não aproveitamos aquilo a que chamamos vida, não vivemos de facto.
Mas o que nos dá o direito de pensarmos que o que temos é a vida? Porque não será a vida aquilo que acontece depois da morte? Será que isto não é apenas uma etapa?
Porque damos tanta importância àquilo que temos, à vida terrena? Será porque não sabemos se existe outra vida? Porque nunca ninguém regressou para nos dizer que existe? Ou porque preferimos não pensar?
Na verdade já alguém venceu a morte, alguém que morreu por nós e que ressuscitou, mas que nós por egoísmo, por vaidade às vezes, por “dar trabalho” e também por nos causar tristeza pensarmos nisso (apesar de não sermos capazes de imaginar todo o sofrimento que Ele passou por nós) nos esquecemos ou tentamos esquecer e acabamos por rejeitar.
É difícil viver a vida segundo a palavra de Deus. Exige que a saibamos primeiro e depois exige de nós alguns sacrifícios. Mas pensando bem, será que a vida que levamos nos faz felizes? Será que nos sentimos completos? Preenchidos? Será que nos amamos uns aos outros? Ou será que se olharmos bem para dentro de nós mesmos sentimos um grande vazio?
Tendo reflectido sobre tudo isto pergunto-me agora, quem somos nós para acharmos que podemos vencer a luta entre a vida e a morte e quem somos nós para acharmos que podemos decidir se uma pessoa morre ou não… Não me parece que tenhamos esse poder. Parece-me que temos sim a ilusão de que controlamos esse poder!
(por Ana Maria)
"... E de novo acredito que nada do que é importante se perde verdadeiramente. Apenas nos iludimos, julgando ser donos das coisas, dos instantes e dos outros.
Comigo caminham todos os mortos que amei, todos os amigos que se afastaram, todos os dias felizes que se apagaram. Não perdi nada, apenas a ilusão de que tudo podia ser meu para sempre." (Miguel Sousa Tavares)
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